terça-feira, 11 de setembro de 2012

Nascimento

(texto do meu diário pessoal)

Papai lutou para que tudo coubesse no pequeno armário.
Não vi mais as bagagens, então acho que ele conseguiu! rsrs

Tudo estava calmo dentro do quarto, estávamos conversando, então o médico apareceu na porta como um fantasma, nem vi de que lado ele veio, mas nunca vou esquecer a cena, roupa de centro cirúrgico, inteira verde, com uma manchinha de sangue na barriga, uma mão com luva, uma sem luva segurando o meu exame, disse apenas:
"está diminuindo um pouco os batimentos cardíacos do bebê quando ele se mexe, não vamos esperar, vamos tirar o bebê com segurança que é melhor, você vai se preparar já pra fazer a cesariana"
neste momento começou um FURACÃO!

Tão logo ele disse isso eu já fui sendo tirada da cama e levada junto com ele.
Então ele mesmo pegou a bolsa do soro e fomos andando para o centro cirúrgico.
Quando parei em frente uma portinha onde o João ficou para ser arrumado e entrar na sala conosco, andamos mais alguns passos e entrei na sala azul de cirurgia.
A maca bem no centro da sala.
Deitei e logo vi um rapaz de touca azul  marinho cheia de bichinhos coloridos estampado. Ele veio até onde eu estava deitada e se apresentou como anestesista (na mesma hora eu esqueci o nome que ele disse)
Olhei para a porta e vi o João Paulo, reconheci um sorriso atrás da máscara, que bom que ele estava ali!
Eu estava nervosa, pensando em tudo o que imediatamente viria, anestesia, corte, ponto... e quando olho pro João Paulo procurando um acalento pro meu desespero, ele desenhou no ar um coração com os dedos e apontou pra mim... existem pessoas no mundo que recebem o dom de nos fazer sorrir a qualquer momento, e bem ali na minha frente eu tinha um anjo desse, meu marido é um anjo desse, sorri, respirei fundo..
O anestesista me pediu para sentar na maca e jogou muito líquido nas minhas costas, parecia que eu estava tomando um banho com um chuveiro ligado nas minhas costas, fiquei com a coluna reta, senti ele tatear com a ponta dos dedos os meus ossinhos das costas.
Ele me avisou que ia dar um piquezinho e pediu para eu não me mexer, eu muito obediente parei de respirar.
Senti um pique muito de leve nas costas e logo ele me avisou que já tinha terminado, não senti ele tirar a agulha.
Me deitei de novo, assim que me acomodei ele me pediu para levantar as pernas, eu não conseguia, elas pesam, formigavam.. assim mesmo... nessa mesma velocidade que você está lendo.
então começou a experiência mais maluca pelo qual eu já passei na minha vida. Anestesia.
Senti as mãos do médico na minha barriga, limpando ela, o tato da minha pele era como se ele tivesse passando a mão por cima de uns 4 edredons, mas onde ele passava a mão, fazia um caminho de formigamento.
O João estava do meu lado direito, assistindo a tudo tão atento que esqueceu que estava com a câmera na mão.
Em questão de segundos a pediatra chamou ele para ir para o lado dos meus pés que o bebê já ia sair.
Pelo refletor em cima de mim eu vi a cabeça do Caio, logo em seguida ouvi ele chorar.
O médico me disse: "Parabéns! Seu nenê é bonito viu? Perfeitinho."
Nessa hora foi como se alguém pausasse minha vida para eu pensar, o mundo parou de girar por um instante, não sei se consigo explicar em palavras o que eu senti... senti alegria, uma alegria e uma emoção tão grande que chorei junto com meu filho.
Toda a gravidez me passou pela cabeça, momentos felizes, os exames que eu tinha feito, a descoberta, os carinhos do papai pelo bebê, os meus medos, toda a ansiedade, as dificuldades, o sangramento forte que eu tive, o medo que eu sentia por não ter descoberto antes, os medicamentos que tomei sem saber que estava grávida, tudo veio a tona como um imenso tsunami que me inundava, tudo veio a tona pra desaparecer para sempre, meu filho nasceu.. estava ali, lindo, forte, perfeito, mais do que eu sempre imaginei.


Caio após alguns minutos do nascimento na maternidade da Santa Casa de Bariri


A pediatra saiu com o Caio no colo, e o João acompanhou ela e nosso filho até a outra sala.
Fiquei ali aos cuidados do meu tio ainda, finalizando a cirurgia.
Passado poucos minutos, a pediatra entrou com o Caio na sala para eu ver meu filhinho pela primeira vez, ele ainda chorava um pouquinho, mas quando ela encostou o corpinho dele no meu rosto ele parou de chorar.
Ainda grávida, comentei muitas vezes, conversando sobre o bebê em conversas infinitas com meu marido, como o bebê seria, como seria o rostinho, os olhinhos, o cabelinho, as mãozinhas... e de repente, quando a espera termina e tenho a chance de matar essa curiosidade enfim, a sensação é de que sempre nos conhecemos, que eu sempre soube como ele seria..

Depois que o Caio saiu no colo da pediatra, ouvi que ele estava indo se vestir, desde então ele ganhou o colinho do papai (que foi muito elogiado mais tarde por algumas enfermeiras, por segurar muito direitinho o bebê).
Terminado o parto, fui para o quarto e depois de ser transferida de maca para cama duas vezes morrendo de medo de cair, indefeza pela anestesia, finalmente cheguei a cama onde ficaria aguardando passar o efeito irritante da anestesia, ao lado do meu maridom que tinha uma constelação brilhando dentro dos olhos essa altura, e do nosso filho, nosso pedacinho, fruto de amor verdadeiro, que já estava instalado no seu bercinho de hospital no nosso quarto.
Não tenho lembranças de um dia mais feliz que esse em toda a minha existência.

É assim que compreendemos como os momentos de simplicidade são  felizes.
Fui completamente feliz ali, de camisola de hospital, anestesiada, descabelada, pálida... vendo meu filho pela primeira vez, sujo e nu, ao lado do meu marido, com roupas verdes e surradas de centro cirúrgico, que mais se parecem com um saco de batatas do que com uma roupa.
Despidos de qualquer espécie de luxo ou vaidade, fomos imensamente felizes!

4 comentários:

  1. Má já sabia que você iria escrever tudo em detalhes, mas não imaginava o quanto, por um momento parecia que eu estava lá junto com você, pois senti angustia, e ao final do texto muita felicidade também, muito lindo a sua história, BJOOOO

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  2. Quando eu estava prestes a ter o bebê, queria saber tudo, como era o parto, em detalhes, e não tive quem me desse as informações que me matassem a curiosidade.
    Então resolvi ajudar as futuras mamães que também não sabem o que se passa dentro da sala de cirurgia, e nem dentro da cabeça de quem está dando a luz.
    Contei com a minha memória pra completar algumas coisas do meu diário, pra dar mais riqueza e detalhe pra história, espero ter dado certo! ;)
    Beijo!

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