quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Reviver..

Nossa, não ta sendo fácil reviver esses momentos..
Fazia tempo que eu não parava pra pensar em detalhes essas coisas... e escrevendo revivi cada sentimento..
Não é fácil, mas é bom..
Acho que tudo o que eu amadureci através do sofrimento me fez ser uma pessoa melhor hoje..
Logo eu volto com o restante da história...

Mudanças

Tudo ia exigir mudanças... isso a gente já sabia..
Minha mãe já aceitava a gravidez, e com a preocupação, ela também cobrava.
Não sei se é o jeito exagerado dela, mas ela cobrava de um jeito que me machucava, me ofendia.
Já me sentia sob pressão, a pressão de não estar com tudo preparando o quanto deveria para receber o bebê, a pressão que a gravidez já exerce em quem espera o bebê, de pensar mil coisas mil serás:
será que vou dar conta?
será que vou saber cuidar?
será que vou ser uma boa mãe?
como será que vai ser o parto?
será que vai dar certo?
será que vai doer?
será que eu vou sofrer?
será que o bebê é perfeito?
x-serás....

Por fim, foi feita uma conversa em casa, o pai do João Paulo foi conversar com a minha mãe, e decidir por fim nossos destinos.. nossas situações financeiras, de como quem ajudava quem..
não tinhamos de verdade condições de levar adiante sozinhos...
Ficou para nós decidirmos onde morar, na casa de um ou de outro.

Por causa da briga do João Paulo com a minha mãe, apesar de já estar mais amenizada, mas por ter acontecido..
por João Paulo estar estudando, em reta final de curso e fazer os trabalhos na internet (que não tinha ainda em casa)
por conhecer o temperamento da minha mãe e achar que seria bom um tempo distante pra botar as idéias no lugar.. achei melhor eu ir para a casa do João Paulo, mesmo não sabendo se isso era o melhor a fazer.

Por fim, acabei indo antes do tempo previsto..
uma nova briga me fez tirar as coisas as pressas e sair sem avisar..
minha amiga Nanã veio com o carro e eu entulhei algumas coisas minhas dentro do porta malas, em sacos e sacolas... pronto! Tinha feito a mudança..
agora eu já podia passar dias chorando por não querer que tivesse acontecido daquela forma...

Certas coisas..


Quando a gente fica grávida sem ser casada, podem me falar o que for.. que os tempos são outros, que agora a modernidade faz tudo ser normal, independente de qualquer coisa que todo mundo diga, só quem passa por isso sabe o que é.
Viramos alvo de fofoca SIM... e ainda pior do que isso...
A gente escuta toda a classe de absurdo.
Eu ouvi tanta, mas tanta besteira, que dou graças hoje pelo meu estado de espírito na época estar tão em alta, e não ter tido espaço pra eu brigar com quem falou.
Ouvi que eu deveria tomar remédio pra abortar, que eu era burra e tinha enfiado minha vida no nariz, ouvi que eu não deveria casar por causa 'disso', ouvi ensinuações, do tipo: João Paulo, quando foi que você passou o período trabalhando em Araraquara mesmo? De quantos meses sua namorada ta grávida?
Coisas do tipo que a gente quer apagar da memória, mas não consegue..
Tudo isso foi positivo pra mim, apesar de tudo..
Só me fortaleceu no que eu queria.
Já que agora eu tinha um filho, eu achava digno que ele tivesse uma família.
João Paulo e eu não estávamos juntos para matar a hora, sabíamos o que queriamos antes mesmo da gravidez, e era estar juntos.
Sempre foi...
Eu passei pelo dilema de uma separação, cresci parte da adolescência e vi meu irmão crescer com pais em casas separadas, e definitivamente isso não era uma coisa que eu queria pro meu filho - isso já estava decidido.

Enfrentando as feras...

Eu tinha ido ao médico, eu precisava dar uma resposta pra minha mãe do que estava acontecendo..
Minha mãe estava com síndrome do pânico, resíduo da separação traumática 14 anos atrás..
Ela teve depressão clínica durante a separação, e da depressão ao longo dos anos resultou na síndrome..
Ela estava com uns quadros críticos, acordando com falta de ar a noite, sofrendo muito.
Eu pensei que a gravidez agora ou ocuparia a cabeça dela pra ela melhorar, ou ia a matar de vez..
Ainda tinha a família do João Paulo.. que ele tinha que contar do bebê..
Os dois terminando a faculdade, sem a menor estrutura pra receber uma criança.
Nós tinhamos que fazer alguma coisa!

Cheguei do médico e contei pra minha mãe.. com a cara e a coragem, mais coragem do que cara.
Ela deu o maior piti do mundo, falou mil coisaas, que eu não tinha responsabilidade, e tudo o que coubesse naquela situação.
Eu disse pra ela rindo: Mãe, eu fui no médico pra buscar notícia sobre uma doença, eu voltei pra casa com um filho que os médicos disseram ser impossível eu conseguir ter. Apesar de toda a situação,eu estou muito feliz, e vou continuar feliz com ou sem o seu apoio.

Ela ficou chorosa uns dias, disse que estava preocupada, que pensava nas condições que teríamos para ter um bebê em casa. Financeiramente a coisa não tava nada fácil.
Vi que ela estava querendo começar a mimar o bebê, uns dias depois ela me deixou um pacotinho de presente em cima da cama, quando abri eram dois macacões de bebê... chorei muito esse dia.
Eu estava caminhando para o 6º mês de gestação, e tudo o que eu tinha era meia gaveta na minha cômoda, com alguns lençóis de bebê que tinham sido meus e do meu irmão.
Nenhuma roupa de recém-nascido, nenhum bercinho...
A impressão que dava é que a casa não ia receber nenhuma criança.. tudo ainda estava muito cru.

João Paulo contou para os pais na casa dele também, não foi fácil, na época ele estava terminando a faculdade, ele só estudava, a gente estava realmente preocupados com as condições para ter o bebê, era uma corrida contra o tempo..
Existiam as preocupações, lógico.. mas a gente também estava curtindo muito a gravidez..
Eram carinhos e beijinhos o tempo todo.. o que faltava ainda no preparo pra receber o bebê, sobrava em amor e carinho. A gente amava muito o bebê, desde o primeiro momento!





Cinco meses

Eu voltei grávida... eu não sabia...
eu não soube por cinco meses que eu estava grávida... e muitos podem se perguntar - COMO?
Simples.. (ou quase simples)
Eu tinha um problema uterino, isso já se sabe..meu fluxo sempre foi totalmente desregulado, e devido ao meu problema, eu menstruei até 7º mês de gravidez..
Eu simplesmente não tinha barriga, não tinha sintomas.. como é que eu ia adivinhar que estava grávida???

Nesse meio de tempo, só Jesus mesmo pra proteger o que a gente não protege por falta de conhecimento..
Eu tive crise alérgica e tomei uma caixa de polaramine, uma cartela de loratadina.
Milhões de remédios para dor de cabeça.
Anti-inflamatórios fortíssimos para a coluna.
Peguei estrada de moto pra fazer cobranças do trabalho. (Eu só trabalhava de moto, fazia chuva ou sol)
Cai de moto inclusive..
Tive dengue..
E talvéz por união de todos esse fatores, no quarto mês de gestação tive uma hemorragia tão grande, que ao procurar um pronto-socorro porque eu já estava sem cor de tanta dor e depois de 24 dias sangrando, o médico me disse pra tomar anticoncepcional pra regular o ciclo, até ganhei uma cartelinha... sem saber eu estava em processo de aborto.

João Paulo estava preocupado comigo, eu estava pálida demais, fomos na farmácia e comprei um complexo vitamínico pra tomar.
Na primeira semana, ao invés de uma cápsula ao dia, eu tomava duas.

Preocupada com meu problema no útero, e com o sangramento muito severo, marquei uma consulta com meu tio que é G.O. em Bariri.
Lá que ele me disse que eu estava grávida, que quase tive um aborto...
ele me perguntou por medicações, eu expliquei tudo o que eu tinha tomado nas crises de coluna e alergia, e que depois dessa hemorragia tomei um complexo vitamínico, eu gosto muito do meu tio, ele tem um semblante suave, sempre sorridente, mas diz tudo o que acontece sem fazer rodeios, ele suspirou e me disse que isso salvou a vida do meu filho.
Eu estava feliz, tinha superado o problema de não poder ter filhos, tinha superado um aborto, tinha salvado a vida do meu filho sem saber, estava orgulhosa do meu filho, ele era tão pequenino, viveu até o quinto mês ali, quietinho, sem ser notado, sem ter nada aqui fora sendo preparado pra ele, sem ao menos conversarmos com ele, dar uma forma de carinho ou atenção..
Mas ele de alguma forma sabia sua importância para mim, o quanto eu o desejava, o quanto sofri por ouvir de todos que ele não viria..
Tão pequenininho... e ele se manteve forte... e presente!
Ele não me abandonou, mesmo sem eu saber que ele estava ali... e eu jurei naquela hora que eu NUNCA o deixaria se sentir só..que iríamos recuperar aqueles cinco meses...


FOTOS

 Minha "grande" barriga aos 6 meses de gravidez...



A primeira 'foto' do meu bebê... no quinto mês, quando soube que estava grávida e que era menino.

Curitiba

Depois de quase dois meses inteiros de planejamento.. finalmente estávamos saindo para Curitiba..
Minha nossa, eu nem acreditava..
Foi a melhor viagem que eu já tinha feito na vida..
Tantos lugares bonitos, Ilha do Mel, Jardim Botânico...  mas acho que o lugar mais bonito da viagem era nosso cantinho.. um quartinho de madeira, simples, simples, de doer de tão simples...
Sem tv, sem rádio.. só dava pra ouvir o barulhinho do riozinho que passava do lado de fora..
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Sim, foi isso mesmo que você leu.. NÃO TINHA TV!
e vcs sabem o que acontece quando não se tem televisão, não é?? rsrsrs

É.. eu voltei grávida da viagem de Curitiba, eu sonhei um mês antes que eu voltava grávida de Curitiba.. mas eu não botei muita fé nisso por causa dos exames.. enfim.. se era a hora, então era pra ser assim...

Viagem para Curitiba

Na faculdade sempre fazíamos viagens..
Então foi cogitado a idéia de ir para Curitiba, por ser cidade modelo e tal..
Eu sempre gostei do litoral paranaense, Ilha do Mel é um lugar fantástico, e o João Paulo ainda não conhecia lá.. como a viagem ia se prolongar por alguns dias (claro, nao dava pra ir pra Curitiba e voltar no mesmo dia!) iriam abrir vagas para pessoas de fora da faculdade.
Oba!! Era tudo o que eu queria!!
Conversei com João Paulo e decidimos ir..
As nossas opções de estadia eram feitas conforme viagens..
Para Poços de Caldas ficamos numa pensão, lá visitamos hotel de luxo e tal... então como fazia parte conhecer todos os tipos de hospedagem, a bola da vez era um Eco Hostel. (nome chique para albergue no meio do mato... rsrsrs)
Muito jovial, bem colocado no meio de um bosque, com áreas de convivência coletivas... tinha um chalé no bosque com churrasqueira, geladeira, microondas.. era bem bonitinho.
Pra matar a curiosidade de vocês eu coloco o site do Hostel...
Eco Hostel Curitiba
Enfim... fomos informados que poderíamos optar por quartos coletivos, eram 8 pessoas do ônibus no mesmo quarto, ou por R$30 a mais por cabeça poderíamos ter um quarto só nosso..
Como já expliquei anteriormente, não vinhamos passando por momentos fáceis, a gente precisava desse tempo pra gente.. esa viagem estava chegando na hora exata, a hora exata de sair de onde a gente tava, esquecer todos os problemas e descansar a cabeça.
Pagamos as 60 pratas feliz da vida!

(minhas fotos da viagem estão num backup em Ibitinga... juro que na próxima vez que eu for pra lá pego as fotos para postar, ok? DESCULPA mil vezes, são resíduos da mudança que ainda não vieram para casa....)

Dificuldades

Além das dificildades que eu estava passando por causa do meu problema, eu estava passando por dificuldades no trabalho.
Onde eu trabalhava eram várias lojas vizinhas, e uma delas uma loja da Tim.
A loja da Tim estava ameançando fechar, e a funcionária da loja 'era amiga' (lê-se: se atirava em cima) do meu patrão.
Ela, muito espertamente, vendo que estava com o 'rabo na reta', começou uma perseguição sem limites comigo, mandava emails pro dono da loja o dia todo inventando coisas a meu respeito, o telefone tocava o dia inteiro com ele perguntando coisas absurdas, que a gente via que só podia ser invenção da menina, ela queria de todo jeito promover a minha demissão.
O dono na loja por sua vez, deu asa a imaginação da menina, nada do que eu fazia estava bom, todas as funções que a outra funcionária e eu dividíamos de forma igualitária, foram tiradas de mim, eu não podia mexer no computador, eu não podia contar o caixa, eu não podia pagar nem receber, eu só podia vender e fazer faxina (queria ver ele me tirar das vendas, como sempre trabalhei vendendo, eu era o tipo que entrava um cliente pra fazer uma compra de R$10,00 e eu fazia uma venda de R$200,00).
Eu também descobri umas falcatruas do nosso patrão, que quando ele permitia que a gente usasse o computador pra tudo, ele salvava num programa escondido todas as nossas senhas e nossos logins, de email, redes sociais, se tivesse acessado banco ele também teria.. ai a coisa complicou de vez..
Eu só estava esperando resposta de outro trabalho para pedir demissão.

Além dessas complicações, em casa a coisa tava feia.. como SEMPRE aconteceu na minha vida, minha mãe não aceitava meu namoro, aliás ela nunca aceitava nada..
Ela não aceitava minhas amizades, meus gostos, as músicas que eu ouvia, meu jeito de arrumar o cabelo, o que eu estudava.. mas isso já estava acostumada..
E em um belo dia ela pegou uma briga com o João Paulo, que mesmo com tudo isso, eu nunca vi ela dizer coisas tão duras pra ninguém, aquele dia eu tive vergonha por ela, por tudo o que ela disse, fiquei muito magoada a ponto de não conseguir conversar direito com ela mais.

Definitivamente, tudo o que eu estava precisando, era pegar o João Paulo e SUMIR do mapa!
A única coisa que andava bem na minha vida era nós dois...

Médicos e a notícia que eu não queria ouvir

Uma das coisas que dividi com João Paulo, e que pouquíssimas pessoas sabiam, era um pouco antes de eu voltar pro taekwondo, por problemas com cólicas menstruais e dorem sem fim, eu já tinha ido em toda ordem de médicos em Ibitinga e em Itápolis, e ouvi o mesmo diagnóstico de todos eles após uma série de exames muito chatos de serem feitos.
- Você não vai ter filhos!
Falado assim, de forma seca e dura.. como quem diz a coisa mais sem importância pra vida de uma mulher cheia de sonhos, algo como: você não vai poder comprar mais bala de hortelã..
Isso pra mim foi um golpe muito duro, ouvir sendo tão jovem que eu nunca ia conseguir ter filhos.
Alguns dos médicos me diagnosticaram com um quadro tão avançando de endometriose que já era hora de pensar numa cirurgia o quanto antes.
Isso tudo me deixava mais e mais triste, eu cheguei ao ponto de não poder olhar para crianças, eu desabava em choro..
O que para mim não era em nada confortável, na época eu trabalhava em frente o Posto de Saúde, e mulher grávida e criança era o que mais se via por ali..
Então eu desenvolvi uma capacidade sobre humana de olhar tudo aquilo o dia inteiro como se não me abalasse em nada, e chegar em casa arrasada, chorar no banheiro como se o mundo tivesse acabado pra mim, levantar no dia seguinte e começar tudo de novo.
Eu tive desespero, tire pena de mim, tive raiva, taquei fogo nos exames, chorei muito, sofri...
O que mais me abalava (abala até hoje por tudo o que eu passei) era ver algumas mulheres, que se dizem mães só porque carregaram uma criança na barriga, batendo, xingando, brigando e humilhando seus filhos no meio da rua.
Quando eu via isso, só sabia achar que o mundo era muito injusto, porque eu não podia? E elas que, por muitas vezes tiveram essas gravidezes de forma indesejada, porque elas podiam??

Isso seria respondido pra mim alguns meses mais tarde..